Universidade do Algarve; Universidade de Évora; Fundação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
A evolução das emissões de gases com efeito de estufa conduzirá, muito provavelmente, à ultrapassagem da meta de 2°C para o aquecimento global, tornando necessário intensificar os esforços de adaptação, particularmente no caso do sector da agricultura que é muito dependente do clima. A avaliação da vulnerabilidade às alterações climáticas e a definição de medidas de adaptação depende de uma grande variedade de métodos e ferramentas que inclui tanto abordagens quantitativas como qualitativas e o envolvimento das partes interessadas no processo participativo, na avaliação económica e na análise de decisões.
Descritores: Regadio; Tomate; Milho; Gases com Efeito de Estufa; Alterações climáticas; recursos hídricos
No contexto da incerteza provocada pelas alterações climáticas sobre a procura dos recursos hídricos na agricultura do futuro, com este projeto pretendeu-se identificar os principais impactes das alterações climáticas nos sistemas agrícolas de regadio no sul de Portugal e o desenvolvimento de medidas de adaptação.
(1) Os cenários de alteração climática mostraram uma redução na produtividade da água (kg/m3) devido ao aumento das necessidades de rega mesmo considerando que as produções das culturas se mantenham inalteradas. Este aumento das necessidades de rega poderá levar a uma redução das áreas regadas ou a mudanças no padrão de culturas;
(2) O impacte das alterações climáticas na agricultura de regadio traduz-se primeiramente na redução do ciclo das culturas e por conseguinte numa redução da produtividade das culturas que é acompanha pela diminuição das necessidades de rega.
(3) As necessidades de rega anuais poderão aumentar entre 18 a 44% caso a rega seja efetuada por canhão e, no caso da rega gota-a-gota poderá haver um incremento nas durações de rega que se reflete principalmente no custo de operação e manutenção do sistema de rega, devido ao aumento das necessidades hídricas anuais dos vários cenários de alterações climáticas.
(4) Em termos do aproveitamento do regadio, dadas as condições distintas dos perímetros de rega em termos estruturais e em termos institucionais, é de esperar que os produtores assumam formas distintas de ajustamento às alterações climáticas.
No caso do perímetro de rega do Caia, i.e., dos solos da região de Évora, é de esperar um aumento das áreas das grandes culturas regadas com menores necessidades de água, como é o caso do trigo e do girassol.
No perímetro de rega de Odivelas e nos solos de Beja, as alterações climáticas levarão a uma diminuição da área de todas as culturas regadio, sendo particularmente relevante o fato dessa redução afetar de forma muito incisiva culturas estratégicas para a região e para o agronegócio português, como o olival, os frutos, as hortícolas e horto-industriais.
A adoção de variedades de ciclo longo permite manter a produtividade das culturas nos níveis atuais, mas à custa da intensificação do uso de alguns fatores, 102 nomeadamente, da água. Neste caso é de esperar um aumento significativo do valor económico da água decorrente do aumento da escassez do recurso, que inclusivamente levará a uma transferência de rendimentos do recurso terra para o recurso água.